Um blog que tem como objetivo falar sobre as dificuldades enfrentadas por mim. Também falarei da minha vida, do meu cotidiano, das minhas conquistas, dos meus fracassos. Postarei textos, letras de músicas, artigos, enfim, tudo o que me chame a atenção. Um blog que tem o intuito de se expressar neste mundo virtual que nos cerca. Um blog feito para você entrar, visitar, e sobretudo comentar. Um blog que te fará aprender, e se reconhecer através do que será postado aqui.
terça-feira, 15 de abril de 2014
Ética, o texto prometido.
Ética
A palavra "ética" é derivada do grego á¼ ¸¹ºÌ (ethikos), e significa
aquilo que pertence ao ἦ¸¿Â [ 1 ] (ethos), que significava "bom
costume ", "costume superior", ou "portador de caráter " [ 2 ] .
Diferencia-se da moral , pois, enquanto esta se fundamenta na obediência
a costumes e hábitos recebidos, a ética, ao contrário, busca fundamentar
as ações morais exclusivamente pela razão . [ 3 ] [ 4 ]
Na filosofia clássica , a ética não se resumia à moral (entendida como
"costume", ou "hábito", do latim mos, mores ), mas buscava a
fundamentação teórica para encontrar o melhor modo de viver e conviver,
isto é, a busca do melhor estilo de vida , tanto na vida privada quanto
em público . A ética incluía a maioria dos campos de conhecimento que
não eram abrangidos na física , metafísica , estética , na lógica , na
dialética e nem na retórica . Assim, a ética abrangia os campos que
atualmente são denominados antropologia , psicologia , sociologia ,
economia , pedagogia , às vezes política , e até mesmo educação física e
dietética , em suma, campos direta ou indiretamente ligados ao que
influi na maneira de viver ou estilo de vida. Um exemplo desta visão
clássica da ética pode ser encontrado na obra Ética , de Spinoza .
Porém, com a crescente profissionalização e especialização do
conhecimento que se seguiu à revolução industrial , a maioria dos campos
que eram objeto de estudo da filosofia, particularmente da ética, foram
estabelecidos como disciplinas científicas independentes. Assim, é comum
que atualmente a ética seja definida como "a área da filosofia que se
ocupa do estudo das normas morais nas sociedades humanas" [ 5 ] e busca
explicar e justificar os costumes de um determinado agrupamento humano,
bem como fornecer subsídios para a solução de seus dilemas mais comuns.
Neste sentido, ética pode ser definida como a ciência que estuda a
conduta humana e a moral é a qualidade desta conduta, quando julga-se do
ponto de vista do Bem e do Mal.
A ética também não deve ser confundida com a lei , embora com certa
frequência a lei tenha como base princípios éticos. Ao contrário do que
ocorre com a lei, nenhum indivíduo pode ser compelido, pelo Estado ou
por outros indivíduos, a cumprir as normas éticas, nem sofrer qualquer
sanção pela desobediência a estas; por outro lado, a lei pode ser omissa
quanto a questões abrangidas no escopo da ética.
Definição e objeto de estudo.
O estudo da ética dentro da filosofia, pode-se dividir em sub-ramos,
após o advento da filosofia analítica no séc XX, em contraste com a
filosofia continental ou com a tradição filosófica. Estas subdivisões
são:
* Metaética , sobre a teoria da significação e da referencia dos
termos e proposições morais e como seus valores de verdade podem ser
determinados
* Ética normativa , sobre os meios práticos de se determinar as
ações morais
* Ética aplicada , sobre como a moral é aplicada em situações
específicas
* Ética descritiva, também conhecido como ética comparativa, é o
estudo das visões, descrições e crenças que se tem acerca da moral
* Ética Moral, trata-se de uma reflexão sobre o valor das ações
sociais consideradas tanto no âmbito coletivo como no âmbito individual.
Termo.
Em seu sentido mais abrangente, o termo "ética" implicaria um exame dos
hábitos da espécie humana e do seu caráter em geral, e envolveria até
mesmo uma descrição ou história dos hábitos humanos em sociedades
específicas e em diferentes épocas. Um campo de estudos assim seria
obviamente muito vasto para poder ser investigado por qualquer ciência
ou filosofia particular. Além disso, porções desse campo já são ocupadas
pela história , pela antropologia e por algumas ciências naturais
particulares (como, p. ex., a fisiologia , a anatomia e a biologia ),
uma vez que os hábitos e o caráter dos homens dependem dos processos
materiais que essas ciências examinam. Até mesmo áreas da filosofia como
a lógica e a estética seriam necessárias em tal investigação, se
considerarmos que o pensamento e a realização artística são hábitos
humanos normais e elementos de seu caráter. No entanto, a ética,
propriamente dita, restringe-se ao campo particular do caráter e da
conduta humana à medida que esses estão relacionados a certos princípios
– comumente chamados de "princípios morais". As pessoas geralmente
caracterizam a própria conduta e a de outras pessoas empregando
adjetivos como "bom", "mau", "certo" e "errado". A ética investiga
justamente o significado e escopo desses adjetivos tanto em relação à
conduta humana como em seu sentido fundamental e absoluto. [ 1 ]
Outras definições.
Já houve quem definisse a ética como a "ciência da conduta". Essa
definição é imprecisa por várias razões. As ciências são descritivas ou
experimentais, mas uma descrição exaustiva de quais ações ou quais
finalidades são ou foram chamadas, no presente e no passado, de "boas"
ou "más" encontra-se obviamente além das capacidades humanas. E os
experimentos em questões morais (sem considerar as consequências
práticas inconvenientes que provavelmente propiciariam) são inúteis para
os propósitos da ética, pois a consciência moral seria instantaneamente
chamada para a elaboração do experimento e para fornecer o tema de que
trata o experimento. A ética é uma filosofia, não uma ciência. A
filosofia é um processo de reflexão sobre os pressupostos subjacentes ao
pensamento irrefletido. Na lógica e na metafísica ela investiga,
respectivamente, os próprios processos de raciocínio e as concepções de
causa , substância , espaço e tempo que a consciência científica
ordinária não tematiza nem critica. No campo da ética, a filosofia
investiga a consciência moral , que desde sempre pronuncia juízos morais
sem hesitação, e reivindica autoridade para submeter a críticas
contínuas as instituições e formas de vida social que ela mesma ajudou a
criar. [ 1 ]
Quando começa a especulação ética, concepções como as de dever ,
responsabilidade e vontade – tomadas como objetos últimos de aprovação
e desaprovação moral – já estão dadas e já se encontram há muito tempo
em operação. A filosofia moral, em certo sentido, não acrescenta nada a
essas concepções, embora as apresente sob uma luz mais clara. Os
problemas da consciência moral, no instante em que essa pela primeira
vez se torna reflexiva não se apresentam, estritamente falando, como
problemas filosóficos. [ 1 ]
Ela se ocupa dessas questões justamente porque cada indivíduo que deseja
agir corretamente é constantemente chamado a responder questões como,
por exemplo, "Que ação particular atenderá os critérios de justiça sob
tais e tais circunstâncias?" ou "Que grau de ignorância permitirá que
esta pessoa particular, nesse caso particular, exima-se de
responsabilidade?" A consciência moral tenta obter um conhecimento tão
completo quanto possível das circunstâncias em que a ação considerada
deverá ser executada, do caráter dos indivíduos que poderão ser
afetados, e das consequências (à medida que possam ser previstas) que a
ação produzirá, para então, em virtude de sua própria capacidade de
discriminação moral, pronunciar um juízo. [ 1 ]
O problema recorrente da consciência moral, "O que devo fazer?", é um
problema que recebe uma resposta mais clara e definitiva à medida que os
indivíduos se tornam mais aptos a aplicar, no curso de suas experiências
morais, aqueles princípios da consciência moral que, desde o princípio,
já eram aplicados naquelas experiências. Entretanto, há um sentido em
que se pode dizer que a filosofia moral tem origem em dificuldades
inerentes à natureza da própria moralidade, embora permaneça verdade que
as questões que a ética procura responder não são questões com as quais
a própria consciência moral jamais tenha se confrontado. [ 1 ]
O fato de que os seres humanos dão respostas diferentes a problemas
morais que pareçam semelhantes ou mesmo o simples fato de que as pessoas
desconsideram, quando agem imoralmente, os preceitos e princípios
implícitos da consciência moral produzirão certamente, cedo ou tarde, o
desejo de, por um lado, justificar a ação imoral e pôr em dúvida a
autoridade da consciência moral e a validade de seus princípios; ou de,
por outro lado, justificar juízos morais particulares, seja por uma
análise dos princípios morais envolvidos no juízo e por uma demonstração
de sua aceitação universal, seja por alguma tentativa de provar que se
chega ao juízo moral particular por um processo de inferência a partir
de alguma concepção universal do Supremo Bem ou do Fim Último do qual se
podem deduzir todos os deveres ou virtudes particulares. [ 1 ]
Pode ser que a crítica da moralidade tenha início com uma argumentação
contra as instituições morais e os códigos de ética existentes; tal
argumentação pode se originar da atividade espontânea da própria
consciência moral. Mas quando essa argumentação torna-se uma tentativa
de encontrar um critério universal de moralidade – sendo que essa
tentativa começa a ser, com efeito, um esforço de tornar a moralidade
uma disciplina científica – e especialmente quando a tentativa é
vista, tal como deve ser vista afinal, como fadada ao fracasso (dado que
a consciência moral supera todos os padrões de moralidade e realiza-se
inteiramente nos juízos particulares), pode-se dizer então que tem
início a ética como um processo de reflexão sobre a natureza da
consciência moral. [ 1 ]
A ética, independente da dimensão em que se apresenta social ou
individual, tem como objetivo, servir à vida, sua razão é o ser humano,
seu bem estar, de forma que provenha a felicidade. [ 1 ]
História da ética.
Ética na filosofia pré-socrática.
A especulação ética na Grécia não teve início abrupto e absoluto. Os
preceitos de conduta, ingênuos e fragmentários – que em todos os
lugares são as mais antigas manifestações da nascente reflexão moral
–, são um elemento destacado na poesia gnômica dos séculos VII e VI
a.C. Sua importância é revelada pela tradicional enumeração dos Sete
Sábios do século VI, e sua influência sobre o pensamento ético é
atestada pelas referências de Platão e Aristóteles . Mas, desde tais
pronunciamentos não-científicos até à filosofia da moral, foi um longo
percurso. Na sabedoria prática de Tales , um dos Sete, não conseguimos
discernir nenhuma teoria da moralidade. No caso de Pitágoras , que se
destaca entre os filósofos pré-socráticos por ser o fundador não apenas
de uma escola, mas de uma seita ou ordem comprometida com uma regra de
vida que obrigava a todos os seus membros, há uma conexão mais estreita
entre as especulações moral e metafísica. A doutrina dos pitagóricos de
que a essência da justiça (concebida como retribuição equivalente) era
um número quadrado indica uma tentativa séria de estender ao reino da
conduta sua concepção matemática do universo; e o mesmo se pode dizer de
sua classificação do bem ao lado da unidade , da reta e semelhantes e do
mal ao lado das qualidades opostas. Ainda assim, o pronunciamento de
preceitos morais por Pitágoras parece ter sido dogmático , ou mesmo
profético , em vez de filosófico, e ter sido aceito por seus discípulos,
numa reverência não-filosófica, como o ipse dixit do mestre. Portanto,
qualquer que tenha sido a influência da mistura pitagórica de noções
éticas e matemáticas sobre Platão, e, por meio deste, sobre o pensamento
posterior, não podemos ver a escola como uma precursora de uma
investigação socrática que buscasse uma teoria da conduta completamente
racional. O elemento ético do "obscuro" filosofar de Heráclito (c.
530-470 a.C.) – embora antecipasse o estoicismo em sua concepção de
uma lei do universo, com a qual o sábio buscará se conformar, e de uma
harmonia divina, no reconhecimento da qual encontrará sua satisfação
mais verdadeira – é mais profunda, mas ainda menos sistemática. Apenas
quando chegamos a Demócrito , um contemporâneo de Sócrates e último dos
pensadores originais que classificamos como pré-socráticos, encontramos
algo que se pode chamar de sistema ético. Os fragmentos que permaneceram
dos tratados morais de Demócrito são talvez suficientes para nos
convencer de que reviravolta da filosofia grega em direção à conduta,
que se deveu de fato a Sócrates, teria ocorrido mesmo sem ele, ainda que
de uma forma menos decidida; mas, quando comparamos a ética democriteana
com o sistema pós-socrático com o qual tem mais afinidade – o
epicurismo – descobrimos que ela exibe uma apreensão bem rudimentar
das condições formais que o ensinamento moral deve atender antes que
possa reivindicar o tratamento dedicado às ciências.
A verdade é que nenhum tipo de sistema de ética poderia ter sido
construído até que se direcionasse a atenção à vagueza e inconsistência
das opiniões morais comuns da humanidade. Para esse propósito, era
necessário que um intelecto filosófico de primeira grandeza se
concentrasse sobre os problemas da prática. Em Sócrates, encontramos
pela primeira vez a requerida combinação de um interesse proeminente
pela conduta com um desejo ardente por conhecimento. Os pensadores
pré-socráticos devotaram-se todos principalmente à pesquisa ontológica ;
mas, pela metade do século V a.C. o conflito entre seus sistemas
dogmáticos havia levado algumas das mentes mais afiadas a duvidar da
possibilidade de se penetrar no segredo do universo físico. Essa dúvida
encontrou expressão no ceticismo arrazoado de Górgias , e produziu a
famosa proposição de Protágoras de que a apreensão humana é o único
padrão de existência. O mesmo sentimento levou Sócrates a abandonar as
antigas investigações físico-metafísicas. Essa desistência foi
incentivada, sobretudo, por uma piedade ingênua que o proibia de
procurar coisas cujo conhecimento os deuses pareciam ter reservado
apenas para si mesmos. Por outro lado, (exceto em ocasiões de especial
dificuldade, nas quais se poderia recorrer a presságios e oráculos) eles
haviam deixado à razão humana a regulamentação da ação humana. A essa
investigação Sócrates dedicou seus esforços. [ 1 ]
Ética sofistica
Embora Sócrates tenha sido o primeiro a chegar a uma concepção adequada
dos problemas da conduta, a ideia geral não surgiu com ele. A reação
natural contra o dogmatismo metafísico e ético dos antigos pensadores
havia alcançado o seu clímax com os sofistas . Górgias e Protágoras são
apenas dois representantes do que, na verdade, foi uma tendência
universal a abandonar a teorização dogmática e estritamente ontológica e
a se refugiar nas questões práticas – especialmente, como era natural
na cidade-estado grega, nas relações cívicas do cidadão .
A educação oferecida pelos sofistas não tinha por objetivo nenhuma
teoria geral da vida, mas propunha-se ensinar a arte de lidar com os
assuntos mundanos e administrar negócios públicos. Em seu encômio às
virtudes do cidadão, apontaram o caráter prudencial da justiça como meio
de obter prazer e evitar a dor. Na concepção grega de sociedade, a vida
do cidadão livre consistia principalmente em suas funções públicas, e,
portanto, as declarações pseudoéticas dos sofistas satisfaziam as
expectativas da época. Não se considerava a á¼€ÁµÄá¼ ( virtude ou
excelência) como uma qualidade única, dotada de valor intrínseco, mas
como virtude do cidadão, assim como tocar bem a flauta era a virtude do
tocador de flauta. Vemos aqui, assim como em outras atividades da época,
a determinação de adquirir conhecimento técnico e de aplicá-lo
diretamente a assuntos práticos; assim como a música estava sendo
enriquecida por novos conhecimentos técnicos, a arquitetura por teorias
modernas de planejamento e réguas T (ver Hipódamo ), o comando de
soldados pelas novas técnicas da " tática " e dos " hoplitas ", do mesmo
modo a cidadania deve ser analisada como inovação, sistematizada e
adaptada conforme exigências modernas. Os sofistas estudaram esses temas
superficialmente, é certo, mas abordaram-nos de maneira abrangente, e
não é de se estranhar que tenham lançado mão dos métodos que se
mostraram bem-sucedidos na retórica e tenham-nos aplicado à "ciência e
arte" das virtudes cívicas.
O Protágoras de Platão alega, não sem razão, que ao ensinar a virtude
eles simplesmente faziam sistematicamente o que todos os outros faziam
de modo caótico. Mas no verdadeiro sentido da palavra, os sofistas não
dispunham de um sistema ético, nem fizeram contribuições substanciais,
salvo por um contraste com a especulação ética. Simplesmente analisaram
as fórmulas convencionais, de maneira bem semelhante a de certos
moralistas (assim chamados) "científicos".
Ética Socrática e seus discípulos.
A essa arena de senso-comum e vagueza, Sócrates trouxe um novo espírito
crítico, e mostrou que esses conferencistas populares, a despeito de sua
fértil eloquência, não podiam defender suas suposições fundamentais nem
sequer oferecer definições racionais do que alegavam explicar. Não só
eram assim "ignorantes" como também perenemente inconsistentes ao lidar
com casos particulares. Desse modo, com o auxílio de sua famosa "
dialética ", Sócrates primeiramente chegou ao resultado negativo de que
os pretensos mestres do povo eram tão ignorantes quanto ele mesmo
afirmava ser, e, em certa medida, justificou o encômio de Aristóteles de
ter prestado o serviço de "introduzir a indução e as definições" na
filosofia. No entanto, essa descrição de sua obra é muito técnica e
muito positiva, se a avaliamos com base nos primeiros diálogos de Platão
, em que o verdadeiro Sócrates encontra-se menos alterado. Sócrates
sustentava que a sabedoria preeminente que o oráculo de Delfos lhe
atribuiu consistia numa consciência única da ignorância. No entanto, é
igualmente claro, com base em Platão, que houve um elemento positivo
muito importante no ensinamento de Sócrates, que justifica afirmar,
junto com Alexander Bain , que "o primeiro nome importante na filosofia
ética antiga é Sócrates". A união dos elementos positivo e negativo de
sua obra tem causado não pouca perplexidade entre os historiadores, e
não podemos salvar a consistência do filósofo a menos que reconheçamos
algumas doutrinas a ele atribuídas por Xenofonte como meras tentativas
provisórias. Ainda assim, as posições de Sócrates mais importantes na
história do pensamento ético são fáceis de harmonizar com sua convicção
de ignorância e tornam ainda mais fácil compreender sua infatigável
inquirição da opinião comum. Enquanto mostrava claramente a dificuldade
de adquirir conhecimento, Sócrates estava convencido de que somente o
conhecimento poderia ser a fonte de um sistema coerente da virtude,
assim como o erro estava na origem do mal. Assim, Sócrates, pela
primeira vez na história do pensamento, propõe uma lei científica
positiva de conduta: a virtude é conhecimento. Esse princípio envolvia o
paradoxo de que a pessoa que sabe o que é o bem não pratica o mal. Mas
esse é um paradoxo derivado de seus truísmos irretorquíveis: "Toda a
pessoa deseja o seu próprio bem e obtê-lo-ia se pudesse" e "Ninguém
negaria que a justiça e a virtude em geral são bens; e entre todos, os
melhores". Todas as virtudes, portanto, estão sintetizadas no
conhecimento do bem. Mas esse bem, para Sócrates, não é um dever que se
opõe ao interesse próprio. A força do paradoxo depende de uma fusão do
dever e do interesse numa única noção de bem, uma fusão que era
prevalecente no modo de pensar da época. Isso é o que forma o núcleo do
pensamento positivo de Sócrates, segundo Xenofonte. Ele não podia
oferecer nenhuma abordagem satisfatória do Bem em abstrato, e
esquivava-se de qualquer questão sobre esse ponto dizendo que não
conhecia "nenhum bem que não fosse bom para alguma coisa em particular
", mas esse bem particular é consistente consigo mesmo. Quanto a si,
estimava acima de todas as coisas a virtude da sabedoria; e, no intuito
de alcançá-la, enfrentava a penúria mais severa, sustentando que uma
vida assim seria mais rica em satisfação que uma vida de luxo. Essa
visão multidimensional é ilustrada pela curiosa mistura de sentimentos
nobres e meramente utilitários em sua abordagem sobre a amizade: um
amigo que não nos traga benefícios não vale nada; no entanto, o maior
benefício que um amigo pode nos trazer é o aperfeiçoamento moral.
As características historicamente importantes de sua filosofia moral, se
tomarmos conjuntamente (como devemos) seus ensinamentos e o seu caráter
pessoal, podem ser sintetizados da seguinte maneira: (1) uma busca
apaixonada por um conhecimento que não está disponível em lugar algum,
mas que, se encontrado, aperfeiçoará a conduta humana; (2)
simultaneamente, uma exigência de que os homens deveriam agir na medida
do possível conforme uma teoria coerente; (3) uma adesão provisória à
concepção recebida sobre o que é bom, com toda a sua complexidade e
incoerência, e uma prontidão permanente em sustentar a harmonia de seus
diversos elementos, e em demonstrar a superioridade da virtude mediante
um apelo ao padrão do interesse próprio; (4) firmeza pessoal em adotar
essas convicções práticas. É só quando temos em vista todos esses pontos
que podemos compreender como, das conversações socráticas, brotaram as
diferentes correntes do pensamento ético grego.
Quatro escolas diferentes têm sua origem imediata no círculo que se
reuniu em torno de Sócrates – a escola megárica , a platônica , a
cínica e a cirenaica . A influência do mestre manifesta-se em todas
apesar das grandes diferenças que as separam; todas concordam em
sustentar que a possessão mais importante do homem é a sabedoria ou o
conhecimento, e que o conhecimento mais importante a ser adquirido é o
conhecimento do Bem. Aqui, no entanto, termina a concordância. A parte
mais filosófica do círculo socrático constituiu um grupo do qual
Euclides de Mégara foi provavelmente o primeiro líder. Esse grupo
admitia que o Bem era objeto de uma investigação ainda inconclusa e
foram levados a identificá-lo com o segredo do universo e, desse modo, a
passar da ética à metafísica. Outros, cujas exigências por conhecimento
eram mais facilmente satisfeitas e estavam ainda sob a impressão causada
pelo lado positivo e prático dos ensinamentos do mestre, tornaram a
busca um assunto bem mais simples. Consideraram que o Bem já era
conhecido e sustentaram que a filosofia consistia na aplicação rígida
desse conhecimento às ações. Entre esses estavam Antístenes, o cínico ,
e Aristipo de Cirene . Em virtude de ambos terem admitido o dever de
viver consistentemente conforme a teoria, em vez de conduzi-la por
impulso ou pelo costume, em virtude de sua noção de um novo valor
conferido à vida por meio dessa racionalização, e em virtude de seus
esforços em manter uma firmeza inabalável, calma e tranquila, de têmpera
socrática, é que reconhecemos Antístenes e Aristipo como "homens
socráticos", apesar de terem dividido a doutrina positiva do mestre em
sistemas diametralmente opostos. Acerca de seus princípios conflitantes,
podemos dizer que, enquanto Aristipo efetivou a transição lógica mais
óbvia para reduzir os ensinamentos de Sócrates a uma clara unidade
dogmática, Antístenes certamente extraiu a inferência mais natural que
se poderia tirar da vida socrática.
Aristipo argumentava que, se tudo o que é belo ou admirável no
comportamento deriva essas qualidades de sua utilidade, isto é, de sua
aptidão em produzir um bem maior; e, se a ação virtuosa é essencialmente
uma ação realizada com previsão – com a apreensão racional de que a
ação é o meio adequado para a aquisição daquele bem –; então aquele
bem só pode ser o prazer. Aristipo sustentava que os prazeres e dores
corporais são os mais incisivos, mas não parece ter defendido essa ideia
em termos de uma teoria materialista , pois admitia a existência de
prazeres exclusivamente mentais, tais como alegrar-se com a prosperidade
da terra natal. Admitia plenamente que esse bem poderia se realizar
apenas em partes sucessivas, e deu ênfase até exagerada à regra de
buscar o prazer do momento e não se preocupar com o futuro. Para
Aristipo, a sabedoria manifestava-se na seleção tranquila, resoluta e
habilidosa dos prazeres que as circunstâncias ofereciam de momento a
momento, sem se deixar perturbar pela paixão, pelo preconceito ou pela
superstição; e a tradição representa-o como alguém que realizou esse
ideal em grau impressionante. Entre os preconceitos dos quais o homem
sábio estaria livre, Aristipo inclui a obediência às convenções ditadas
pelo costume que não tivessem penalidades vinculadas à sua transgressão;
no entanto, sustentava, assim como Sócrates, que essas penalidades
tornavam razoável adotar uma postura de conformismo. Assim, logo nos
primórdios da teoria ética, já aparecia uma exposição completa e
minuciosa do hedonismo .
Bem diferente era a compreensão de Antístenes e dos cínicos a respeito
do espírito socrático. Eles igualmente sustentavam que nenhuma pesquisa
especulativa seria necessária à descoberta do bem e da virtude, e
defenderam que a sabedoria socrática não se exibiu numa busca habilidosa
pelo prazer; mas, ao contrário, numa indiferença racional em relação ao
prazer – numa nítida compreensão de que não há valor algum no prazer
nem em outros objetos dos desejos mais comuns acalentados pelos homens.
Antístenes, com efeito, declarou taxativamente que o prazer é um mal: "É
melhor a loucura que ceder ao prazer". Ele não desconsiderou a
necessidade de complementar o insight meramente intelectual com a "força
de espírito socrática"; mas parecia-lhe que, por uma combinação de
insight e autocontrole, a pessoa poderia conquistar uma independência
espiritual absoluta que nada deixaria faltar a um perfeito bem-estar
(ver também Diógenes de Sínope ). Pois, quanto à pobreza, à labuta
extenuante, ao desapreço e aos outros males que apavoram os homens,
esses seriam úteis, argumentava ele, como meios de avançar na liberdade
e virtude espiritual. Entretanto, na concepção cínica de sabedoria, não
há um critério positivo além da mera rejeição dos preconceitos e dos
desejos irracionais. Vimos que Sócrates não alegava ter descoberto uma
teoria abstrata sobre a boa ou sábia conduta; ao mesmo tempo, entendia
essa falta, em sentido prático, como motivo para a execução confiante
dos deveres costumeiros, sustentando sempre que sua própria felicidade
estava condicionada a essa prática. Os cínicos, de modo mais ousado,
descartaram tanto o prazer como o mero costume por considerarem ambos
irracionais; mas, ao fazerem isso, deixaram a razão liberada sem nenhum
objetivo definido além de sua própria liberdade. É absurdo, tal como
Platão apontou, dizer que o conhecimento é o bem e, depois, quando nos
indagam "conhecimento de quê?" não ter outra resposta positiva senão "do
bem"; mas os cínicos não parecem ter feito nenhum esforço sério de
escapar a esse contrassenso. [ 1 ]
As concepções mais extremas dessas duas escolas socráticas serão
retomadas quando chegarmos às escolas pós-aristotélicas; mas antes
devemos esboçar o modo como a teoria socrática foi elaborada por Platão
e Aristóteles.
Platão.
A ética de Platão não pode ser adequadamente tratada como um produto
acabado, mas antes como um movimento contínuo, a partir da posição de
Sócrates, em direção ao sistema mais completo e articulado de
Aristóteles, exceto por sugestões de teor ascético e místico em algumas
partes dos ensinamentos de Platão que não encontram correspondência em
Aristóteles, e que, de fato, desaparecem da filosofia grega logo após a
morte de Platão, para bem mais tarde ressurgirem e serem
entusiasticamente desenvolvidas pelo neopitagorismo e pelo neoplatonismo
. O primeiro ponto em que podemos identificar uma concepção ética
platônica distinta da de Sócrates está presente no Protágoras . Nesse
diálogo, Platão envida esforços genuínos, embora nitidamente
tenteadores, em definir o objeto daquele conhecimento que ele e seu
mestre consideravam ser a essência de toda a virtude. Esse conhecimento
seria na verdade uma mensuração de prazeres e dores por meio da qual o
sábio evita erroneamente subestimar as sensações futuras em comparação
com o que se costuma chamar de "ceder ao medo e ao desejo". Esse
hedonismo tem intrigado os leitores de Platão. Mas não há razão para
perplexidades, pois (como dissemos ao tratar dos cirenaicos) o hedonismo
é o corolário mais óbvio daquela doutrina socrática segundo a qual cada
uma das diferentes noções de bem – o belo, o prazeroso e o útil –
deve ser de alguma forma interpretada em termos das outras. No que diz
respeito a Platão, no entanto, essa conclusão só podia ser mantida
enquanto ele não tivesse executado o movimento intelectual de levar o
método socrático para além do campo do comportamento humano e
desenvolvê-lo num sistema metafísico.
Esse movimento pode ser expresso da seguinte maneira. "Se soubéssemos",
dizia Sócrates, "o que é a justiça, seríamos capazes de apresentar uma
definição da justiça"; o verdadeiro conhecimento deve ser um
conhecimento do fato geral, comum a todos os casos individuais aos quais
aplicamos a noção geral. Mas isso também é verdade em relação a outros
objetos de pensamento e discurso; a mesma relação entre noções gerais e
exemplos particulares se estende por todo o universo físico; só podemos
pensar e falar sobre ele por meio de tais noções. O conhecimento
verdadeiro ou científico, portanto, deve ser um conhecimento geral,
relacionado primariamente não aos indivíduos, mas aos fatos ou
qualidades gerais que os indivíduos exemplificam; de fato, a noção de um
indivíduo, quando examinada, mostra-se como um agregado daquelas
qualidades gerais. Mas, novamente, o objeto do verdadeiro conhecimento
deve ser o que realmente existe; assim, a realidade do universo deve se
apoiar em fatos ou relações gerais, e não nos indivíduos que
exemplificam tais fatos e relações.
Até aqui os passos são suficientemente claros; mas ainda não vemos como
esse realismo lógico (como foi posteriormente chamada essa posição)
resulta no caráter essencialmente ético do platonismo. A filosofia de
Platão está voltada para o universo inteiro do ser; no entanto, o objeto
último de sua contemplação filosófica ainda é "o bem", agora considerado
como o fundamento último de todo o ser e de todo o conhecimento. Ou
seja, a essência do universo é identificada com esse fim – a causa
"formal" das coisas é identificada com a sua causa "final", conforme a
posterior terminologia aristotélica. Como isso ocorre?
Talvez a melhor maneira de explicá-lo esteja num retorno à aplicação
original do método socrático aos assuntos humanos. Uma vez que toda a
atividade racional tem em vista alguma finalidade, as diferentes artes e
funções da indústria humana são naturalmente definidas por uma
declaração sobre seus usos ou finalidades; analogamente, ao oferecer uma
explicação sobre os vários artistas e funcionários, apresentamos
necessariamente as suas finalidades – "aquilo em que eles são bons".
Numa sociedade organizada segundo os princípios socráticos, todos os
seres humanos seriam designados para alguma utilidade; a essência de
suas vidas consistiria em fazer aquilo em que são bons (o seu µÁ³¿½
próprio). Mas, novamente, é fácil estender essa concepção para todo o
campo da vida organizada; um olho que não alcança a sua finalidade de
enxergar está destituído da essência do olho. Em resumo, podemos dizer
acerca de todos os órgãos e instrumentos que eles são o que pensamos
deles à medida que cumprem a sua função e alcançam sua finalidade.
Assim, se concebermos organicamente todo o universo como um arranjo
complexo de meios para fins, entenderemos por que Platão pode sustentar
que todas as coisas realmente são , ou (como diríamos) "realizam sua
ideia", à medida que alcançam o fim ou o bem especial para o qual foram
dispostas. Mesmo Sócrates, apesar de sua aversão à física, foi levado
pela reflexão piedosa a expor uma visão ideológica do mundo físico, um
mundo organizado em todas as suas partes pela sabedoria divina para a
realização de alguma finalidade divina; e a viragem metafísica que
Platão imprimiu a essa visão foi provavelmente antecipada por Euclides
de Mégara, que sustentava que o único ser real é "aquilo que chamamos
por diversos nomes: Bem, Sabedoria, Razão ou Deus", aos quais Platão,
alçando a identificação socrática da beleza com a utilidade a um
significado mais elevado, acrescentou o nome do Belo Absoluto, ao
explicar como o amor à beleza mostra-se em última instância como um
anseio pela finalidade e pela essência do ser.
Platão, portanto, aderiu a essa vasta orientação filosófica, e
identificou as noções últimas da ética com as da ontologia. Temos de ver
agora que atitude adotará em relação às investigações práticas que foram
o seu ponto de partida. Quais serão agora suas concepções de sabedoria,
virtude, prazer e de suas relações com o bem-estar?
[225px-Lorenzetti_Amb._good_government_det..jpg]
[magnify-clip.png] Buon Governo (detalhe), afresco de Ambrogio
Lorenzetti . Na ética platônica, a Sabedoria (alto) e a Justiça (centro)
são as virtudes fundamentais para a boa condução tanto da vida
particular como do Estado.
A resposta a essa questão é algo complicada. Em primeiro lugar, temos de
observar que a filosofia, agora, saiu da praça do mercado e entrou na
sala de aula. Sócrates buscava uma arte de se conduzir que seria
exercida num mundo prático e entre semelhantes. Mas, se os objetos do
pensamento abstrato constituem o mundo real, do qual esse mundo de
coisas individuais é apenas uma sombra, é evidente que a vida mais
elevada e mais real será encontrada naquela primeira região, não nessa
última. A verdadeira vida do espírito deve consistir na contemplação da
realidade abstrata que as coisas concretas obscuramente representam –
na contemplação do arquétipo ou ideal que os indivíduos sensíveis imitam
imperfeitamente; e, como o homem é mais verdadeiramente homem à medida
que se identifica com a sua mente, o desejo pelo bem de si mesmo, que
Platão, seguindo Sócrates, sustentava ser permanente e essencial em
todas as coisas vivas, revela-se em sua forma mais elevada como o anseio
filosófico por conhecimento. Esse anseio surge – assim como a maioria
dos impulsos sensuais – com uma percepção de que nos falta alguma
coisa anteriormente possuída, alguma coisa da qual mantemos uma memória
latente na alma. No aprendizado de uma verdade abstrata por demonstração
científica, simplesmente tornamos explícito o que já sabíamos
implicitamente; trazemos à clareza da consciência as memórias ocultas
decorrentes de um estado anterior em que a alma contemplava diretamente
a Realidade e o Bem, antes de ela ser aprisionada num corpo estranho e
antes da mistura de sua verdadeira natureza com os sentimento e impulsos
carnais. Chegamos assim ao paradoxo de que a verdadeira arte de viver é,
na verdade, uma "arte de morrer" para os sentidos, a fim de existir em
estreita união com a bondade e a beleza absoluta. Por outro lado, dado
que o filósofo deve ainda viver e atuar no mundo sensível, a
identificação socrática entre sabedoria e virtude é plenamente mantida
por Platão. Somente aquele que capta o bem em abstrato pode reproduzi-lo
como bem transitório e imperfeito na vida humana, e é impossível que,
dispondo desse conhecimento, não aja de acordo com ele, seja em assuntos
privados, seja em assuntos públicos. Assim, no verdadeiro filósofo,
encontraremos necessariamente o homem bom em sentido prático, e também o
estadista perfeito, caso a organização da sociedade permita-lhe exercer
a sua habilidade estadística.
Os traços característicos dessa bondade prática no pensamento maduro de
Platão refletem as noções fundamentais de sua concepção de universo. A
alma do homem, em seu estado bom e normal, deve estar organizada e
harmonizada conforme a orientação da razão. Surge então a questão: "Em
que consiste essa ordem ou harmonia?" Para esclarecer a resposta
elaborada por Platão, convém notar que, embora mantivesse a doutrina
socrática de que a virtude mais elevada é indissociável do conhecimento
do bem, Platão reconhecia uma espécie inferior de virtude, possuída por
homens que não eram filósofos. É evidente que, se o bem a ser conhecido
é o fundamento último de todas as coisas, ele só pode ser alcançado por
um restrito e seleto grupo. No entanto, não podemos restringir a virtude
apenas a esse grupo. Que abordagem, então, devemos dar às virtudes
"cívicas" ordinárias – coragem , temperança e justiça ? Parece claro
que os homens que cumprem os seus deveres, resistindo às seduções do
medo e do desejo, devem ter, se não conhecimento, ao menos opiniões
corretas quanto ao bem e ao mal na vida humana; mas de onde viriam essas
"opiniões" corretas? Vêm em parte, diz Platão, da natureza e da
"alocação divina"; mas, para seu adequado desenvolvimento, são
necessários "o costume e a prática". Daí a importância basilar da
educação e da disciplina para a virtude cívica; e mesmo para os futuros
filósofos é indispensável essa cultura moral, em que também cooperam o
treinamento físico e estético (uma preparação apenas intelectual não
basta). O conhecimento perfeito, por outro lado, não pode ser implantado
numa alma que não tenha passado por uma preparação que inclui bem mais
que o treinamento físico. O que é essa preparação? Um passo importante
na análise psicológica foi dado quando Platão reconheceu que o efeito
dessa preparação era produzir a "harmonia" acima mencionada entre as
diferentes partes da alma, de modo que os impulsos se subordinassem à
razão. Platão distinguiu esses elementos não-racionais num componente
concupiscível (Ä¿ µÀ¹¸Åµ·Ä¹º¿½) e num componente irascível (Ä¿ ¸Åµ¿µ¹´µÂ
ou ¸Åµ¿Â) – e afirmou que a separação entre esses dois elementos, e
entre esses e a razão, é estabelecida pela experiência que temos de
nossa vida interior.
Nessa tripartição da alma, Platão encontrou uma concepção sistemática
das quatro espécies de virtudes reconhecidas pela moral estabelecida da
Grécia – mais tarde chamadas de Virtudes Cardinais . Dessas, as duas
mais fundamentais eram a sabedoria – que em sua forma superior
identifica-se com a filosofia – e aquela atividade harmoniosa e
regulada de todos os elementos da alma, que Platão toma como a essência
da retidão nas relações sociais (´¹º±¹¿Ã¹½·). O sentido desse termo é
essencialmente social; e só podemos explicar o uso desse termo por
Platão numa referência à analogia que ele traça entre o homem individual
e a comunidade. Numa polis justamente ordenada, tanto o bem-estar social
como o bem-estar individual dependeriam da interação harmoniosa daqueles
diversos elementos, cada um deles desempenhando a sua função própria, a
qual, em sua aplicação social, é mais naturalmente denominada
´¹º±¹¿Ã¹½·. Vemos, além disso, como na concepção platônica as virtudes
fundamentais da Sabedoria e da Justiça estão interconectadas. A
sabedoria mantém necessariamente a atividade ordenada, e essa última
consiste na regulação pela sabedoria; enquanto que as duas outras
virtudes especiais – a Coragem (±½´Áµ¹±) e a Temperança (ÃÉÆÁ¿Ã¹½·)
– são apenas lados ou aspectos diferentes dessa ação sabiamente
regulada de uma alma composta.
Essas são as formas como o bem essencial se manifesta na vida humana.
Resta saber se a apresentação dessas formas fornece uma explicação
completa do bem-estar humano ou se também se deve incluir o prazer.
Nesse ponto, o pensamento de Platão parece ter sofrido várias
oscilações. Depois de aparentemente sustentar que o prazer é o bem (
Protágoras ), ele passa para o extremo oposto, rejeitando qualquer
assimilação entre bem e prazer ( Fédon , Górgias ); pois (1), sendo algo
concreto e transitório, o prazer não é o bem verdadeiramente essencial
que o filósofo está a buscar; (2) as sensações que mais prontamente
reconhecemos como prazeres estão associadas à dor, num vínculo
completamente estranho à natureza do bem, uma vez que esse último jamais
se associa ao mal. No entanto, essa era uma concepção que discordava
tanto do socratismo que Platão não poderia permanecer nela. Que o prazer
não fosse um bem absoluto não era justificativa para não incluí-lo entre
os bens da vida humana concreta; além disso, somente os prazeres brutos
e vulgares estão indissociavelmente ligados às dores da carência. Desse
modo, na República , ele não receia tomar o prazer como parâmetro para
responder à questão sobre a superioridade intrínseca da vida filosófica
ou virtuosa, e argumenta que só o homem filosófico (ou bom) desfruta o
prazer genuíno, ao passo que o sensualista gasta a sua vida oscilando
entre a carência dolorosa e o estado neutral de falta-de-dor, que ele
equivocadamente toma por prazer positivo. Ainda mais enfaticamente,
declara-se nas Leis que, quando estamos "dissertando para homens, não
para deuses", devemos mostrar que a vida que estimamos como a melhor e
mais nobre é também aquela em que o prazer supera em maior proporção a
dor. Mas, embora Platão mantenha que essa conexão inquebrantável entre o
melhor e o mais prazeroso seja verdadeira e importante, é apenas em
benefício do vulgo que ele dá essa ênfase ao prazer; pois, na comparação
mais filosófica apresentada no Filebo entre as alegações do prazer e as
da sabedoria, as primeiras são completamente subjugadas.
Aristóteles.
Aristóteles , em sua obra Ética a Nicômaco , afirma que a felicidade (
eudemonia ) não consiste nem nos prazeres, nem nas riquezas, nem nas
honras, mas numa vida virtuosa. A virtude ( areté ), por sua vez, se
encontra num justo meio entre os extremos, que será encontrada por
aquele dotado de prudência ( phronesis ) e educado pelo hábito no seu
exercício.
Para Epicuro a felicidade consiste na busca do prazer, que ele definia
como um estado de tranquilidade e de libertação da superstição e do medo
( ataraxia ), assim como a ausência de sofrimento ( aponia ). Para ele,
a felicidade não é a busca desenfreada de bens e prazeres corporais, mas
o prazer obtido pelo conhecimento, amizade e uma vida simples. Por
exemplo, ele argumentava que ao comermos, obtemos prazer não pelo
excesso ou pelo luxo culinário (que leva a um prazer fortuito, seguido
pela insatisfação), mas pela moderação, que torna o prazer um estado de
espírito constante, mesmo se nos alimentarmos simplesmente de pão e
água. [ 6 ]
Para os estóicos , a felicidade consiste em viver de acordo com a lei
racional da natureza e aconselha a indiferença ( apathea ) em relação a
tudo que é externo. O homem sábio obedece à lei natural reconhecendo-se
como uma peça na grande ordem e propósito do universo, devendo assim
manter a serenidade e indiferença perante as tragédias e alegrias.
Para os céticos da antiguidade , nada podemos saber, pois sempre há
razões igualmente fortes para afirmar ou negar qualquer teoria, além do
que toda teoria é indemonstrável (um dos argumentos é que toda
demonstração exige uma demonstração e assim ad infinitum ). Defender
qualquer teoria, então, traz sofrimentos desnecessárias e inúteis.
Assim, os céticos advogavam a "suspensão do juízo" ( epokhé ). Por
exemplo, aquele que não imagina que a dor é um mal não sofre senão da
dor presente, enquanto que aquele que julga a dor um mal duplica seu
sofrimento e mesmo sofre sem dor presente, sendo a mera ideia do mal da
dor às vezes mais dolorosa que a própria dor. [ 7 ]
Ética na Idade Média, no Renascimento e no Iluminismo.
Enquanto na antiguidade todos os filósofos entendiam a ética como o
estudo dos meios de se alcançar a felicidade (eudaimonia) e investigar o
que significa felicidade, na idade média, a filosofia foi dominada pelo
cristianismo e pelo islamismo, e a ética se centralizou na moral como
interpretação dos mandamentos e preceitos religiosos.
No renascimento e nos séculos XVII e XVIII, os filósofos redescobriram
os temas éticos da antiguidade, e a ética foi entendida novamente como o
estudo dos meios de se alcançar o bem estar, a felicidade e o bom modo
de conviver tendo por base sua fundamentação pelo pensamento humano e
não por preceitos recebidos das tradições religiosas.
Espinoza , em sua obra Ética , afirma que a felicidade consiste em
compreender e criar as circunstâncias que aumentem nossa potência de
agir e de pensar, proporcionando o afeto de alegria e libertando-nos das
determinações alheias (paixões), isto é, afirmando a necessidade de
nossa própria natureza ( conatus ). Unicamente a alegria nos leva ao
amor ("alegria que associamos a uma causa exterior a nós") no cotidiano
e na convivência com os outros, enquanto a tristeza jamais é boa,
intrinsecamente relacionada ao ódio ("tristeza que associamos a uma
causa exterior a nós"), a tristeza sempre é destrutiva. [ 8 ] [ 9 ]
Espinosa dizia, quanto aos dominados pelas paixões: "Não rir nem chorar,
mas compreender." [ 10 ]
Visão.
A ética tem sido aplicada na economia , política e ciência política ,
conduzindo a muitos distintos e não-relacionados campos de ética
aplicada, incluindo: ética nos negócios e Marxismo .
Também tem sido aplicada à estrutura da família, à sexualidade, e como a
sociedade vê o papel dos indivíduos, conduzindo a campos da ética muito
distintos e não-relacionados, como o feminismo e a guerra , por exemplo.
A visão descritiva da ética é moderna e, de muitas maneiras, mais
empírica sob a filosofia Grega clássica, especialmente Aristóteles .
Inicialmente, é necessário definir uma sentença ética, também conhecido
como uma afirmativa normativa. Trata-se de um juízo positivo ou negativo
(em termos morais) de alguma coisa.
Sentenças éticas são frases que usam palavras como bom, mau, certo,
errado, moral, imoral, etc.
Aqui vão alguns exemplos:
* “Salomão é uma boa pessoaâ€
* “As pessoas não devem roubarâ€
* “A honestidade é uma virtudeâ€
Em contraste, uma frase não-ética precisa ser uma sentença que não serve
para uma avaliação moral. Alguns exemplos são:
* “Salomão é uma pessoa altaâ€
* “As pessoas se deslocam nas ruasâ€
* "João é o chefe".
Ética nas ciências.
* A principal lei ética na robótica é:
. Um robô jamais deve ser projetado para machucar pessoas ou
lhes fazer mal.
* Na biologia :
. Um assunto que é bastante polémico é a clonagem : uma parte
dos ativistas considera que, pela ética e bom senso , a clonagem só deve
ser usada, com seu devido controle, em animais e plantas somente para
estudos biológicos - nunca para clonar seres humanos.
* Na Programação
. Nunca criar programas (softwares) para prejudicar as pessoas,
como para roubar ou espionar.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário